08 fevereiro, 2007

PORTUGAL SÉCULO XX: 50 ROSTOS PARA UMA IDENTIDADE

A tão falada globalização económica e mediática desencadeou, neste final de milénio, um movimento contraditório em direcção às consciências étnicas, religiosas e culturais. Numa revalorização da ideia de identidade e na defesa de modos de vida específicos, saberes particulares, singularidades e soberanias.
Não se pode todavia afirmar que tal tenha sempre um sentido positivo. Muitas vezes, são as mentalidades mais retrógradas que se servem da legítima resistência à uniformização para alimentar tenebrosas opções sociais.
Convirá não esquecer que a identidade, entendida como nacionalismo e xenofobia, atravessou a paisagem ideológica do século, sob a forma do nazismo, do estalinismo, das limpezas étnicas e dos campos de concentração.
Não escondo por isso que este é um terreno altamente perigoso. Que só pode ser percorrido através da revisitação actualizada do passado e nunca como glorificação deste. E de uma ideia de identidade como singularidade e nunca como ideologia.
Recuperada em tantas partes do mundo, como centro de conflitos ou reacção à contemporaneidade, a procura de identidade é afinal, numa sociedade em acelerada mudança, uma busca de equilíbrio do humano e partilha da vida em sociedade.
Em Portugal, o brusco desenvolvimento económico da última década e a integração europeia criaram uma sensação de perda e uma enorme desorientação quanto à nossa consistência cultural. Sentimento que tem desencadeado inúmeras manifestações, também aqui quantas vezes confundindo identidade com nacionalismo, afirmação própria com recusa da diferença. No entanto, e na generalidade dos casos, estamos perante uma procura séria e empenhada de reconhecimento individual e colectivo.
Portugal Século XX insere-se neste contexto, dando continuidade ao trabalho que, enquanto artista plástico, venho desenvolvendo e de que a série com o rosto da Amália é sobejamente conhecido.
Trata-se de um conjunto de 50 retratos de personalidades que marcaram o século XX português. Rostos que desenham vivências essencialmente positivas, que beneficiaram o país e a sua cultura. Não se encontrando portanto, as figuras negras do nosso passado recente, cuja relevância para a análise dos tempos é evidente, mas que não justificam qualquer celebração.

Leonel Moura
Sintra, 1997

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